Captur Techno TCe 100 Bi-Fuel: conduzimos o renovado SUV da Renault que anda a gasolina e pisca o olho ao GPL

A mais recente geração do Renault Captur deixou para trás o ar simpático de SUV urbano: o facelift de 2024 deu-lhe um ar mais ousado, com linhas desportivas que o aproximam de um crossover musculado.
É um dos modelos que mais vemos nas estradas nacionais: desde que foi lançado, em 2013, o Captur tem-se assumido como um dos automóveis da sua gama mais populares e, na segunda metade do ano passado, foi renovado.
A dianteira impõe-se, agora, com os novos faróis em forma de boomerang — uma assinatura LED que lhe confere agressividade — e uma grelha com padrão em relevo, em losangos, que reforça o carácter desportivo e, até mesmo a roçar o premium, deste modelo.
Este já não é o “SUV fofinho” da Renault a que estávamos habituados — a mais recente transformação do Captur, que o coloca na linha de design da restante gama da Renault, foi uma jogada interessante por parte da marca, já que lhe dá ares de parecer pertencer a uma gama mais elevada.

Mas o novo Captur não é apenas visual. A versão Techno TCe 100 Bi-Fuel, que conduzimos durante cinco dias, aposta numa combinação de gasolina e GPL, que permite uma autonomia total a rondar os 900 quilómetros: cerca de 500 em gasolina e mais de 390 com gás. A gestão entre os dois modos é feita através de um botão discreto que fica no lado esquerdo do tablier, mesmo por trás do volante.
Basta um toque e a fonte de alimentação muda para GPL, com o painel de instrumentos a reflectir de imediato a alteração: consoante o que escolhemos, muda a indicação da autonomia, à esquerda, passando a outra a estar “escondida” num menu, à direita. Esta é uma boa decisão da marca, já que evita confusões para o condutor.
O painel de instrumentos é, ainda, um dos mais intuitivos que usámos este ano. A informação é apresentada de forma clara, sendo possível navegar entre dados de consumos, desempenho em tempo real (graças ao gráfico ‘Eco’, com um alvo que nos incentiva a conduzir de forma mais eficiente), distâncias percorridas e até o que estamos a ouvir no rádio ou no telemóvel.

Neste Captur, não há dados redundantes e confusos como já temos visto noutras marcas — para isto também contribui a forma organizada como a Renault dividiu os comandos pelo volante: estão bem distribuídos, o que ajuda a manter tudo organizado e fácil de controlar em andamento.
No lado direito, temos os modos de condução — ‘Sport’, ‘Eco’, ‘Comfort’ e um personalizável — acessíveis com um simples toque num botão em forma de asterisco. À esquerda, ficam os comandos do cruise control, incluindo uma função prática que adapta automaticamente a velocidade à máxima permitida na estrada onde circulamos. Esta será uma boa ajuda para evitar multas ou distracções.
Curiosamente, os controlos multimédia não estão no volante, mas sim numa manete escondida por trás, do lado direito. A ideia pode ser prática, mas a execução nem tanto: várias vezes, ao alternar entre fontes de áudio (como Bluetooth ou Apple CarPlay), notámos interrupções e lentidão na transição, com alguns silêncios prolongados que quebram a experiência a bordo. Aqui, a Renault podia — e devia — afinar a fluidez do sistema.

Mas, apesar disto, um dos grandes destaques a bordo é o sistema de infoentretenimento OpenR Link baseado num excelente ecrã central, vertical de 10,4 polegadas e na plataforma Google: a navegação é fluída, com menus simples e acessíveis. O melhor é ter sempre CarPlay ou Android Auto, para a experiência ser a melhor, mas se não o quisermos fazer, o facto de ser muito parecido com a operação de um smartphone ou tablet facilita e muito a interacção.
Os atalhos para os vários ecrãs (‘Home’, ‘Música’, ‘Apps’ e ‘Automóvel’) estão no topo, ficando a parte de baixo reservada para o AC; para complementar, há uma fila de botões físicos, na base do ecrã, com o estilo de interruptor que controlam todas as funcionalidades do ar e do AC, mais uma vez bem organizados.
No topo estão ainda os botões para controlar o volume que não estão num local muito natural — preferíamos tê-los em baixo. Aqui, fica ainda o que serve para desligar o ecrã com a opção de bloqueio para que o possamos limpar de pó e dedadas, sem carregar indevidamente nos comandos digitais. Este é um pormenor que pode parecer irrelevante, mas que acaba por ser bastante útil; isto mostra que alguém, na Renault, pensou bem na experiência do utilizador.

No menu do automóvel, é possível personalizar o comportamento do Captur com algum pormenor, com a escolha entre o esforço da direcção (‘Baixa’, ‘Leve’ e ‘Média’), a resposta do motor (‘Normal’, ‘Eco’ e ‘Desporto’) e a dinâmica (idem). Esta é uma forma de o Captur se adaptar ao estilo de cada condutor, numa forma de reforçar a ligação entre o automóvel e a nossa personalidade.
A diferença entre os modos principais de condução é notória: em ‘Sport’, o Captur responde com mais vivacidade ao acelerador, enquanto o modo ‘Eco’ suaviza o desempenho deste SUV, em nome da poupança, claro. Como acontece com outros automóveis, estes menus estão, ainda, recheados de opções para configurar desde a iluminação interior do automóvel aos sistemas de assistência à condução.
E por falar em segurança: a Renault teve o bom senso de incluir um botão físico para silenciar os alertas sonoros, que tantos condutores consideram intrusivos, sobretudo os que assinalam excessos de velocidade.

Neste último caso, temos uma abordagem inteligente da Renault: como sabemos, os alertas sonoros de ultrapassagem da velocidade de uma via são dos mais irritantes que os automóveis actuais têm, e no caso do Captur, não é diferente.
Como já vimos noutros modelos, nem sempre há um atalho rápido que os permita desligar, uma vez que se ligam sempre que ligamos o automóvel. Aqui, para facilitar isto, basta configurar um modo de segurança onde escolhemos que tipo de alertas queremos, bastando depois carregar no botão físico que está à esquerda do volante.
Já no estacionamento, a experiência sofre um pouco com a qualidade da câmara de marcha-atrás: tem baixa definição e os sensores são exageradamente sensíveis, alertando de forma estridente para obstáculos que ainda estão longe ou não oferecem perigo de colisão, como lancis de passeio — assustámo-nos algumas vezes e até chegámos a sair para ver o que poderia estar no caminho do Captur — era apenas isso, o lancil relativamente baixo de um passeio.

No habitáculo, há um equilíbrio entre plásticos mais duros e superfícies mais agradáveis ao tacto, como os painéis esponjosos no tablier e o tecido e a pele nas portas. Os bancos em tecido também têm pele, nas laterais, o que dá ao Captur um ar mais distinto; além do bom aspecto, são bastante confortáveis e ergonómicos.
Atrás o espaço é generoso e a crítica que mais ouvimos foi a falta das pegas no tejadilho para que os passageiros se possam segurar em curvas. Para quem for atrás, há ainda duas USB-C e até uma de isqueiro, tudo pontos bastante positivos.
À frente, esta oferta repete-se e é acompanhada por uma prática base de carregamento por indução. O telefone fica de lado, longe da vista, o que ajuda a manter a concentração na estrada, sobretudo porque o CarPlay e o Android Auto evitam que se tenha de desviar os olhos do ecrã principal.

Na arrumação da coluna central, se a bandeja Qi estiver com o telefone, faltam zonas para guardar objectos: há apenas mais uma, “escondida” por baixo do ecrã, que não é totalmente visível da posição do condutor ou do passageiro. Fora esta, temos apenas uma pequena base à medida da chave (em formato cartão) do Captur e dois compartimentos para copos/garrafas.
Sob o apoio de braço, e muito recuado — o que dificulta o acesso — há um compartimento fundo que pode ser usado para guardar objectos mais sensíveis. Em resumo, a arrumação podia ser mais generosa e mais bem dimensionada; na consola central, também gostávamos de uma manete das mudanças mais ergonómica e talvez numa posição mais baixa e recuada — isto também daria mais espaço para colocar um compartimento-extra de arrumação, à frente.
Em termos de consumos, o Captur Bi-Fuel mostrou-se competente: 9,4 l/100 km a GPL e 6,7 l/100 km a gasolina num total de 243 quilómetros percorridos. Ambos são valores razoáveis, tendo em conta o tipo de condução (mais puxado, em auto-estrada e estradas secundárias) e a versatilidade oferecida pelos dois combustíveis. Este Renault Captur Techno TCe 100 Bi-Fuel (a versão ensaiada custa 26 300 euros) é, sobretudo, um SUV com atitude que parece ser de uma gama superior, algo que nem sempre vemos reflectido, actualmente, na oferta das marcas.