E-408 GT: conduzimos o fastback eléctrico da Peugeot que é obviamente espaçoso e surpreendentemente ágil

Fomos os primeiros a testar, em Portugal, o novo Peugeot E-408 GT, a versão 100% eléctrica deste fastback que continua a ser uma das ofertas mais consistentes da marca.
Numa altura em que os SUV assumem o papel de eucaliptos e secam (quase) todos os formatos à sua volta, modelos como os fastbacks são alternativas a ter em conta para quem quer algo no meio entre estes e as berlinas.
Neste estilo de carroçaria, o tejadilho desce de forma contínua e suave desde o pára-brisas até à traseira, sem que exista uma quebra acentuada com a bagageira. É precisamente isto que vemos no 408, um perfil mais fluido e aerodinâmico, que o torna num dos mais emblemáticos modelos do seu género, juntamente com o C5 X (já o conduzimos na versão ‘Hypnos’), igualmente com o “carimbo” da Stellantis.

Primeiro, o 408 foi anunciado com uma motorização híbrida plug-in , a que se seguiu a mild-hybrid; agora, a gama recebe um modelo totalmente eléctrico, que reforça o portfólio EV da marca francesa, uma das que mais oferece neste segmento: são quase quinze opções.
Comparando com o C5 X, o aspecto exterior transmite mais agressividade, com arestas bem pronunciadas que lembram um caça furtivo, algo que vai mais ao encontro da nossa preferência. O equilíbrio entre frente e traseira está muito conseguido: à frente, destacam-se a grelha e as garras luminosas laterais, enquanto atrás surge um spoiler duplo e pontiagudo que reforça a postura desafiante do E-408.
A versão GT, que conduzimos, dá-lhe elementos premium como faróis Matrix LED em vez dos LED da versão Allure, sensores dianteiros, iluminação ambiente personalizável com oito cores (entre outros), além do pack Drive Assist Plus que oferece condução semi-autónoma de nível 2. A cor Azul Obsession, um extra de 650 euros, é uma das mais belas que temos visto ultimamente.

Esta linguagem de design, feita de arestas agressivas, estende-se ao interior, sobretudo na zona do tablier, que transmite a sensação de estarmos aos comandos de uma nave espacial – de resto, isto é algo que já tínhamos sentido com os E-5008 e E-3008, igualmente em edições GT. Os acabamentos simulam metal, com apontamentos de textura em fibra de carbono nas portas e numa faixa no tablier. A presença de zonas almofadadas contribui para um ambiente bastante premium.
No habitáculo, não há espaço para o minimalismo. O look & feel está em linha com outros modelos recentes da marca, como os já mencionados E-3008 e o E-5008 GT, mas a disposição dos ecrãs é diferente: aqui, o painel de instrumentos e o do infoentretenimento estão separados e assumem-se como independentes.
O quadrante pode ser usado com um visual 3D opcional (ligado por defeito), quase como um holograma projectado, que mostra o velocímetro e o gráfico da relação ‘Potência/Eco/Charge’. Gostámos do efeito futurista, mas seria útil que a cor mudasse automaticamente consoante o modo de condução seleccionado.
O ecrã central (com uma estética muito geométrica e integrado no tablier) tem menus intuitivos e bem dimensionados, mas notámos alguma lentidão ao navegar, situação que poderá ser resolvida com uma actualização. No entanto, fica longe da posição de condução, obrigando a esticar o braço, e não há uma base de apoio para a mão.

Por baixo dos i-Toggles (personalizáveis, com cinco atalhos para funções rápidas), encontramos uma linha de botões físicos, quase todos dedicados ao ar condicionado, excepto dois: um permite acesso directo ao menu ADAS para desligar os alertas de manutenção de faixa e de velocidade excessiva. Aqui, o ideal é não ter i-Toggles que choquem com estes botões físicos.
Mais abaixo, gostámos da arrumação do selector de marcha e do comando do modo de condução, ambos bem posicionados na consola central, mais práticos do que nos outros modelos da marca. Já o volante compacto e desportivo é agradável, mas exige algum esforço de regulação para não tapar parte do painel de instrumentos. O ideal é colocá-lo o mais abaixo possível e ajustar a posição de condução em conformidade.
Na consola central existem vários pontos de arrumação de fácil acesso, mas a base de carregamento Qi está demasiado escondida sob a linha de botões físicos: preferimos ver o ecrã do smartphone, mesmo com CarPlay ou Android Auto ligados. Por baixo desta base há um compartimento iluminado com saída USB-C e de 12 V e, mais à frente, temos uma dupla base para copos com tampa retráctil, útil também para guardar objectos mais sensíveis.

Os bancos em combinação de pele e tecido oferecem bom apoio lombar e lateral, embora sejam algo duros. O apoio de cabeça é em Alcântara, mas preferíamos que fosse em pele ou tecido, já que este material tende a desgastar-se mais facilmente com o contacto directo. Há ainda bancos dianteiros e volante aquecidos, e um sistema de áudio com seis altifalantes (dois tweeters, dois woofers e duas colunas).
Na condução, o E-408 mostra-se envolvente com os seus três modos — ‘Normal’, ‘Eco’ e ‘Sport’ — e outros tantos níveis de travagem regenerativa, ajustáveis pelas patilhas atrás do volante. Estas são das melhores que já experimentámos: pequenas, precisas e bem posicionadas, dão uma boa sensação de controlo. Ainda assim, a regeneração máxima não permite condução apenas com um pedal, embora seja eficaz.
A passagem para o modo ‘Sport’ sente-se claramente, com aquele arranque que cola as costas ao banco. A direcção, muito leve, facilita as manobras, o que nos surpreendeu num fastback de quase cinco metros. Os consumos finais ficaram nos 15,7 kWh/100 km, em cerca de 240 km percorridos, com a marca a garantir uma autonomia WLTP de 454 km e consumos oficiais de 14,9 kWh/100 km, o que está em linha com a nossa experiência.

Contudo, o sistema de gestão de consumos do E-408 podia ser mais transparente: não é possível fazer reset por viagem, nem visualizar resumos detalhados. Apenas surgem dados totais de quilómetros e tempo, e o menu ‘Energia’ restringe-se a intervalos temporais de ’30’, ’60’ e ‘180 minutos’. Também não existem botões no volante para aceder a esta informação no painel de instrumentos, estando disponível apenas no ecrã central.
Somando tudo, o E-408 GT parece-nos um dos EV mais refinados da Peugeot, com conforto e habitabilidade acima da média. Os 4,7 metros de comprimento traduzem-se num habitáculo espaçoso e numa mala de 570 litros, suficiente para quatro mochilas e duas pranchas de bodyboard sem compromissos. A versão GT começa nos 43 305 euros, mas com a cor Azul Obsession (650 euros) e o Pack VisioPark 360 (750 euros), o valor total fixa-se em 44 705 euros.