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T03: conduzimos o carrinho eléctrico da Leapmotor que pode ser a escolha mais acertada deste segmento A

©MotorMais | Leapmotor T03©MotorMais

O compacto da Leapmotor chega ao mercado português com um argumento difícil de recusar: vem com um conjunto de equipamentos que, no segmento A eléctrico, nenhum rival consegue oferecer, por 18 500 euros.

Os concorrentes directos do T03 contam-se pelos dedos de meia mão. O Dacia Spring fica-se pelos 65 cavalos, bateria de 26,8 kW/h e autonomia urbana de 228 km; esta versão começa nos 18 900 euros e não tem navegação com trânsito ao vivo e câmara traseira, ambos de série no Leapmotor.

No papel, e sublinhando que ainda não conduzimos o Spring, este modelo fica aquém do T03. Já o Dolphin Surf, o golfinho da BYD, entra em campo com um design mais apelativo, mas a versão de entrada custa 20 818 euros e tem 88 cavalos. Para ter sistemas ADAS, é preciso subir para a versão Boost, perto dos 25 mil euros. Se a escolha for apenas racional, o T03 leva vantagem.

De facto, estamos a falar do mais competitivo modelo do segmento: com carga a 100%, a autonomia mostrada no painel de instrumentos era de 274 km, um valor que ultrapassa os 265 km oficiais, comunicados pela marca, em ciclo misto WLTP (em ciclo urbano, a Leapmotor fala em 395 km, algo que nos parece muito irreal).

©MotorMais | Leapmotor T03
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Com 95 cavalos, bateria de 37,3 kW/h e carregamentos dos 30 aos 80% em apenas 36 minutos, o T03 apresenta-se com números que reforçam a ideia de que este pequeno urbano compete sem problemas com alguns modelos acima. Quando o vimos pela primeira vez, em Março deste ano, no evento de apresentação da Leapmotor, imaginámos um preço ideal de 14 990 euros.

Contudo, depois de uma condução prolongada, e de vermos melhor as suas capacidades, percebemos que os 18 500 euros estão alinhados com aquilo que oferece. Lá dentro, temos dois ecrãs (painel de instrumentos de oito polegadas e principal de dez, com navegação), Wi-Fi e 4G, ar condicionado automático, uma câmara de atenção ao condutor, seis airbags, três câmaras, cinco radares e dez sistemas de assistência à condução, sob a insígnia Leap Pilot Driver.

A lista alarga-se com tecto panorâmico de 42 polegadas com cortina, jantes de liga leve de quinze polegadas e sensores de estacionamento com câmara. Tudo isto num “corpo” de 3,62 metros de comprimento e 1,58 de largura. Tal como o C10, que testámos na semana passada, o minimalismo é o traço principal do habitáculo.

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Como no C10, os botões físicos desapareceram quase por completo da consola central e as funções essenciais ficaram restritas ao ecrã táctil: luzes, modos de condução (‘Normal’, ‘Eco’, ‘Sport’), modos de direcção (‘Conforto’, ‘Normal’, ‘Sport’), a abertura da porta de carregamento ou a personalização do botão da chave.

Só escapam o comando físico do tecto panorâmico (tejadilho) e a regulação dos retrovisores (nas portas). No volante, há controlos de multimédia e de cruise control, mas a posição da roda do volume, metida entre estes últimos, não faz sentido e merecia estar no lado oposto, provavelmente sob a forma de botões. O sistema de som fica muito aquém, abafado e com sensação de mono, já para não falar da falta de CarPlay e Android Auto, prometidos via OTA, mas que nunca chegaram a fazer parte de um update.

Na arrumação, o espaço é o esperado para um urbano deste tamanho. Há guarda-luvas e bolsas nas portas, mas, ao meio, tudo é escasso: temos apenas um porta-copos/garrafas e uma ranhura vertical para colocar o smartphone (aqui estão ainda duas portas USB-A). Mais recuado, no meio dos bancos, temos um pequeno nicho que serve apenas para pormos uma carteira e algumas moedas. No que respeita a conforto, os bancos em tecido cumprem, mas não convidam a viagens longas: são duros e pouco confortáveis.

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Mas o maior problema do habitáculo é a posição do ecrã principal, algo que já nos tinha ficado “entalado” durante o curto período de teste que tivemos em Março. Este display fica demasiado em baixo e parte fica obstruída pelo volante e pela manete de selecção de marcha (foto em cima). Para vermos os menus, que ficam numa lista à esquerda, temos de desviar o olhar da estrada em excesso.

Isto torna-se um grande problema, quer porque não nos parece muito seguro, quer porque há uma dependência total para operar este ecrã. Em abono da boa interactividade, temos uma barra inferior com atalhos rápidos – ar condicionado, volume e menus de configuração – que ajuda, mas não resolve a 100% os problemas deste sistema. Pior: há uma gaveta lateral com atalhos rápidos, mas fica do lado oculto pelo volante, pelo que seria mais lógico colocá-la no topo do ecrã, como acontece com o C10.

Mas há uma coisa que nos cativou, e muito: ao volante, o T03 revela-se surpreendentemente divertido. A agilidade em cidade é o seu principal argumento: foi feito para serpentear entre o trânsito e caber em espaços de estacionamento (mais ou menos óbvios) mais apertados. Em ‘Eco’, sentimos a regeneração demasiado forte e, em ‘Sport’, temos mais vivacidade, embora sem o arranque explosivo de outros modelos.

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O ponto menos positivo é o zumbido do motor, algo que também já tínhamos sublinhado nas primeiras impressões: pode tornar-se muito irritante, sobretudo se o quisermos conduzir em silêncio. Lembrámo-nos dos sons que faziam as portas da nave especial do filme ‘À Boleia Pela Galáxia’ e dos carrinhos telecomandados Nikko, que tínhamos em criança.

Já o design, não será o mais consensual: a frente parece uma personagem de desenho animado, com um ar sorridente, e a traseira remete para algo britânico, talvez uma espécie de mini-táxi londrino LEVC TX. Mas, a verdade, é que, na globalidade, o look é simpático e muito urbano. Excelentes foram os consumos ao fim dos quase 160 km percorridos, com predominância de circuito urbano: fizemos 11,3 kW/h.

No fim das contas, o T03 revela-se um modelo eléctrico consistente, tecnológico e bem equipado (com opções de série que, normalmente, só aparecem acima dos 25 mil euros), ao ponto de fazer esquecer algumas das concessões impostas pela Leapmotor para chegar a este preço, as naturais deste segmento. Quem estiver à procura de um eléctrico acessível, funcional e com verdadeira alma urbana, este pequeno Leapmotor está muito perto de ser a escolha mais lógica.