EX40 Black Edition Single Motor: conduzimos o SUV da Volvo que pode ser uma ameaça ao EX30 (e que só devia vir em preto)

O EX40, aqui numa Black Edition (que de preto tem muito pouco), continua a ser um SUV sólido, mas que começa a fazer cada vez menos sentido num mundo onde já vive o EX30.
A história da mudança de nome é por demais conhecida: o XC40 Recharge passou a chamar-se EX40 para reforçar a nova etapa eléctrica da Volvo. Percebe-se que a marca quis encaixar um dos seus modelos mais vendidos dos últimos tempos no seu portfólio, mas será que é mesmo preciso ter dois modelos que aparentam canibalizar-se?
É muito simples desconstruir esta abordagem da Volvo: por um lado, o EX30 surge como o «new kid on the block», mais tecnológico, com uma nova linguagem de design e preparado para um público mais jovem. O EX40, como se baseia no modelo de há oito anos, tem um aspecto mais tradicional, mais Volvo clássica, com um habitáculo que foge ao minimalismo do outro SUV compacto 100% eléctrico.

Em resumo, quem prefere um automóvel mais atual (sem botões físicos na consola central e em linha com o futuro da marca) tem de optar pelo EX30; se a ideia é ficar com um SUV que respeite ainda o visual pré-EX40, com menos tecnologia mas com um aspecto mais sólido, tem aqui este EX40.
A Black Edition é, como já tínhamos visto com o EC40, um pack estético que torna os SUV Volvo mais atraentes visualmente. Mas, se no EC a marca nos tivesse emprestado um modelo totalmente em preto, que lhe dava uma presença muito forte, isso não aconteceu com este EX. É verdade que podemos escolher entre outras cores (além do preto, branco cristal, cinza Vapour ou azul denim), mas isto acaba por trair o conceito Black Edition – o resultado é um modelo que, no geral, por fora, se parece muito com qualquer outro EX40.
Assim, o modelo testado (em azul denim) não corresponde totalmente àquilo que esperamos de uma Black Edition. Quando se ouve este nome, imagina-se o carro completamente em preto, mas o que vemos é um SUV com apenas um toque negro nas jantes de liga leve de 20 polegadas, nos retrovisores e em poucos pormenores da carroçaria. Uma verdadeira Black Edition deveria abraçar por completo a escuridão sem concessões – como Henry Ford dizia do seu Modelo T, «pode ser em qualquer cor, desde que seja preto».

Na linha do EC40, o cockpit é dominado por painéis em borracha texturizada com um mapa estilizado de Gotemburgo, como se este modelo fosse um convite para descobrir a geografia da cidade que viu nascer a marca. Nas portas estão as ilhas de Brännö e Asperö, no tablier surgem Torslanda e Biskopsgården e, do lado do passageiro, seguimos para Kålltorp, Sävedalen e o lago Härlanda Tjärn. Para um condutor português, estes nomes dizem pouco, mas a intenção está lá: elevar subtilmente a experiência e diferenciá-la dos EX comuns.
Assim, o habitáculo compensa parte da falta de ousadia visual exterior (lembramos que estamos a avaliar unicamente a versão cedida pela Volvo e não a gama geral). O revestimento das portas e o piso em tecido estilo alcatifa criam um ambiente acolhedor e os bancos vêm com os estofos de série (Tecido Premium), mas é possível optar por camurça (mais 1 562 euros). O tecto panorâmico deixa-nos com mais luz e sensação de amplitude, embora a falta de uma cortina física limite a privacidade e o conforto em dias de sol forte – a crítica é a mesma do EC40.
A integração com os serviços Google continua a ser um dos trunfos da Volvo, embora funcione melhor nos EX mais recentes. O Maps e o Assistant fazem parte da experiência, mas continuamos a ter uma lacuna difícil de justificar: não há Apple CarPlay e Android Auto sem fios. A conectividade inclui carregamento sem fios Qi e duas portas USB-C à frente, a que se juntam mais duas atrás.

Quanto à arrumação, mantém-se a mesma abordagem prática do EX40 tradicional: espaços úteis junto à base de carregamento, um grande alçapão sob o apoio de braço e suportes para copos junto ao selector de marcha, que continua a ser uma pega tradicional, algo que transmite segurança na utilização.
O nível de equipamento Plus serve de base à Black Edition e traz consigo o sistema de som Harman Kardon, um ponto alto na nossa experiência multimédia. Já a navegação pelos menus do automóvel é intuitiva: na secção de Condução conseguimos desligar facilmente os sistemas ADAS e os modos disponíveis resumem-se a Standard (que merecia o nome Desportivo) e Off-Road, um modo mais associado à versão Cross Country.
O painel de instrumentos é generoso, mas subaproveitado: ou vemos o mapa no centro ou ficamos com um vazio negro nessa zona. Ponto negativo ainda para a câmara traseira, que oferece um efeito fisheye peculiar; isto faz com que mostre sempre demasiada carroçaria, como se o carro espreitasse de dentro de si próprio.

Ao volante, o EX40 Black Edition mantém a filosofia do conforto desta gama, assim como a disponibilidade do acelerador. A potência de 175 kW permite acelerações até aos 100 km/h em 7,3 segundos, com velocidade máxima de 180 km/h. A autonomia eléctrica chega, em teoria, aos 476 km em ciclo combinado e pode alcançar os 640 km em cidade, segundo a marca.
Na realidade, registámos 16,6 kWh/100 km num total de 210 km percorridos, com velocidade média de 29 km/h e cerca de 200 km de autonomia restante. Estes dados permitem concluir que podemos confiar em cerca de 400 km de alcance realista, desde que a condução seja equilibrada.
Ainda em condução, o sistema One Pedal Drive poderia oferecer níveis ajustáveis de desaceleração, mas limita-se a uma resistência única. Existe um modo automático que aplica travagem consoante as condições da estrada: é útil, mas menos configurável do que o que queríamos.

Esta versão começa nos 57 391 euros, mas o exemplar ensaiado vinha recheado de opções: o pack Power Seats & Lighting adiciona 2 374 euros; o tecto panorâmico custa 1 415 euros; a câmara de 360 graus, mais 554 euros; por fim, os vidros traseiros escurecidos juntam mais 400 euros à conta. Resultado: uma factura de 62 133 euros, que acaba por ser um preço bastante elevado para este modelo compacto, dado que um EX30 idêntico pode custar quase menos vinte mil euros.
No fim da experiência, o EX40 Black Edition deixa uma ideia clara: tem qualidade, conforto e tecnologia suficientes para convencer quem valoriza um SUV eléctrico com o clássico carisma escandinavo. A Volvo só precisa de assumir por completo este nome e deixar de ter outras cores que traem o conceito: uma verdadeira Black Edition deve vestir-se de preto da cabeça aos pés. Aqui, podemos dizer que a Volvo ficou a… meio caminho da escuridão.











