Megane E-Tech Esprit Alpine 220 cv: conduzimos o irreconhecível modelo da Renault na sua versão mais desportiva

O novo Megane é mais um exemplo claro de como a marca francesa decidiu romper com o passado, ao contrário do que já tinha acontecido com o Scenic.
Se há marca que tem apresentado modelos com designs e formatos mais fora da caixa é a Renault. O que a casa gaulesa faz ao Megane é prova disso mesmo: onde antes havia um hatchback, uma carrinha e um coupé, agora há apenas este modelo que parece viver em três mundos.
Ao contrário de ser apenas um facelift, um dos blockbusters da história da Renault deixou definitivamente a imagem que o tornou popular e passou a assumir-se como um crossover compacto, com linhas mais desportivas e uma identidade visual muito mais afirmada.
O resultado é uma mistura entre hatchback, SUV urbano e crossover, algo que, temos de assumir, a Renault consegue fazer com uma coerência rara de encontrar no mercado. Aqui na sua versão muito vistosa Esprit Alpine de 220 cv, temos um modelo de “apenas” 4,1 metros, uma posição de condução elevada e uma silhueta que remete para um coupé de cinco portas.

Sem dúvida que as linhas exteriores são mais fluidas e aerodinâmicas que a anterior geração. Por exemplo, o capot, com uma dupla concavidade, dá-lhe ainda mais carácter, e a cor Cinzento Shiste mate (um opcional de 800 euros), eleva ainda mais o registo estético desta versão Alpine, reforçada pelos logótipos laterais e por um look geral que tem tanto de sóbrio, como de elegante.
No interior, o ambiente é imediatamente familiar para quem, como nós, já passou pelo novo Scenic, outro modelo que a Renault reinventou por completo e que conduzimos na primeira metade deste ano. A arquitectura do cockpit repete-se, com destaque para o sistema openR link e o ecrã vertical de 12 polegadas com navegação Google integrada.
Continua a ser possível ligar o ecrã no retrovisor interior, uma solução com vantagens claras em determinadas situações: por exemplo, mostra muito mais que o reflexo, devido à obstrução dos apoios de cabeça dos bancos traseiros. Contudo, pedia-se mais qualidade de imagem, dado que acaba por ser um elemento fundamental da segurança automóvel.

Em sentido contrário está a câmara de marcha-atrás, com uma imagem nítida e bem definida, finalmente à altura do resto dos pergaminhos dos novos Renault; quer no 5 E-Tech, quer no Scenic, a qualidade não era a melhor, parecia quase a de uma câmara VGA.
No que respeita ao sistema de infoentretenimento, este é, sem grande margem para dúvida, um dos melhores que testámos este ano num eléctrico, o que segue a tendência dos outros dois modelos que já referimos. Os gráficos apostam numa abordagem mais irreverente, quase com inspiração no universo gaming, mas sem comprometer a clareza. Depois, os menus são intuitivos e tudo se activa ou desactiva com poucos toques.
Naturalmente, o emparelhamento com Apple CarPlay ou Android Auto (sem fios, algo que, por exemplo, um Polestar não pode “dizer”) continua a ser a forma mais prática de aumentar os recursos de um, já de si, bom sistema, com base na plataforma Google. Além disto, a interacção, além de simples, é particularmente fluida.

Na base do ecrã central, a Renault oferece a sua já conhecida faixa de controlos físicos dedicados ao ar condicionado, aquecimento dos bancos ou a direcção do fluxo de ar. O painel de instrumentos digital de 12,3 polegadas repete as animações já vistas no Scenic e no Renault 5, com grafismos claros e bem animados.
O volante, revestido em alcantara em duas zonas, segue a mesma lógica do habitáculo: comandos intuitivos e bem colocados; depois, voltamos a encontrar as patilhas que permitem ajustar os quatro níveis de regeneração da bateria, incluindo o modo e-Pedal puro.
Este último é bastante agressivo, ao ponto de imobilizar quase de imediato o automóvel assim que levantamos o pé do acelerador, o que acaba por limitar a sua utilização no dia-a-dia: sempre que o usámos, mesmo em descidas, tornou-se bastante desconfortável. Fora este, a adaptação aos restantes níveis é rápida e estas patilhas podem ser uma excelente alternativa ao pedal do travão, sobretudo em tráfego urbano ou em estradas mais sinuosas.

O sistema Multi-Sense mantém-se como um dos grandes trunfos de condução dos Renault mais recentes, com quatro modos de condução — ‘Eco’, ‘Comfort’, ‘Sport’ e ‘Personalizado’ — que permitem ajustar a resposta do motor, a direcção e a dinâmica geral. A diferença entre modos é clara, com a maior a fazer-se notar, claro, entre o ‘Eco’ e o ‘Sport’: sentimos logo uma resposta imediata, um “kick” bem marcado.
A arrumação é outro ponto forte deste Megane: para as dimensões mais compactas que apresenta, surpreende pela quantidade e espaço. A consola central aberta oferece várias zonas generosas, incluindo uma área modular mais à frente e um grande compartimento sob o apoio de braço.
Contudo, a bandeja de carregamento Qi continua demasiado escondida por baixo do ecrã, mas há uma saliência bem pensada no seguimento do apoio de braço onde podemos meter o smartphone na vertical – não nos pareceu uma coisa muito pensada pela Renault, mas funciona (imagem em baixo). É também nesta zona que se encontram duas portas USB-C, às quais se juntam mais duas para os passageiros traseiros.

Em estrada, o espírito Alpine faz-se sentir de forma clara. Os bancos com bons apoios lombares, eléctricos e com memória, seguram bem o corpo. Já a direcção ganha peso em modo ‘Sport’, as acelerações são vigorosas e Megane cola-se bem à estrada. Com 220 cv, uma bateria de 60 kWh e um binário sempre disponível, acelera dos 0 aos 100 km/h em 7,4 segundos e atinge uma velocidade máxima de 160 km/h, tudo números em linha com o formato deste tipo de modelos.
Das coisas de que gostámos mais foi da agilidade em curva, algo que ficou bem evidente em percursos regionais entre Colares e a Ericeira, onde esta versão Alpine nos deu muita confiança. Em cidade, o comportamento mantém-se igualmente exemplar: os seus 4,1 metros de comprimento facilitam manobras e o estacionamento em lugares mais apertados, o que confirma a sua (também) vocação de verdadeiro citadino.
Em termos de eficiência, os valores anunciados apontam para 15,2 kWh/100 km em ciclo combinado e 11,8 kWh em contexto urbano, com autonomias de 459 km e até 593 km em cidade. No nosso ensaio, registámos um consumo real de 15,5 kWh ao longo de 149 km, um resultado muito próximo do prometido e perfeitamente alinhado com as promessas da marca. E, se dissemos que o conduzimos maioritariamente em modo ‘Sport’, nada meigos com o acelerador, este número acaba por impressionar ainda mais.

Resta dizer que a versão Esprit Alpine cedida pela marca vem com jantes em liga leve de vinte polegadas, estofos em TEP reciclado preto com pespontos azuis e emblema Alpine. Aqui, vinham ainda extras como o Pack Advanced Driving Assist & Augmented Vision (mais 1210 euros), o sistema de som premium Harman Kardon com nove altifalantes (860 euros) e o cabo de carregamento modo 2 Flexicharger de 6,5 metros (400 euros).
O Megane E-Tech Esprit Alpine começa nos 40 830 euros e, com todos os extras, a unidade testada bate nos 46 350 euros. Este é um preço que reflecte não apenas o nível de equipamento, mas também a maturidade de um modelo picado pela marca de desempenho da Renault, que deixou definitivamente o passado para trás e encontrou uma nova identidade no universo eléctrico da casa gaulesa.











