Model Y Premium AWD: conduzimos o “pai” dos automóveis eléctricos que continua a definir o futuro da condução

Em 2025 testámos vários automóveis bem recheados de tecnologia, mas assim que entrámos neste Tesla, percebemos uma coisa: ia ser uma experiência à parte.
Pela primeira vez na MotorMais, depois de quase onze anos a escrever sobre a Tesla e as suas tecnologias, tivemos a oportunidade de experimentar aquele que é, para muitos, a quintessência deste tipo de automóveis. É mais ou menos consensual que estamos perante o “pai” dos EV actuais, na medida em que é um modelo pensado de raiz como eléctrico, sem adaptações ou compromissos herdados de modelos a combustão.
Tudo, do interior ao exterior, transpira futurismo e minimalismo; por fora, a marca adoptou a tendência das ópticas em forma de faixas luminosas a toda a largura, tanto à frente como atrás. Em relação à geração anterior, as linhas estão mais marcadas e ligeiramente mais agressivas – o aspecto geral transmite a sensação de um chassis bem esculpido e refinado.
A Tesla “limpou” o capot do logótipo e, na traseira, deixou apenas o nome da marca, escrito a preto sobre uma faixa igualmente escura, discreta e parcialmente escondida sob a asa onde se integra a óptica. Um pequeno spoiler acentua o carácter mais desportivo deste SUV que, pela inclinação acentuada do vidro traseiro, não ficava nada mal com uma designação coupé.

De série, temos as jantes Crossflow de 19 polegadas em preto (para nós, mais atractivas que as opcionais em prateado) e a pintura Cinzento Furtivo; todas as outras, incluindo a Quicksilver da versão ensaiada, custam mais 2 600 euros, um valor que temos de considerar muito exagerado. Estranho é o facto de a cor de série não ser a branco, o tom que sempre associámos à Tesla.
Os puxadores das portas, encastrados para melhorar a aerodinâmica, não são retrácteis como até acontece noutros modelos como os Polestar e o Sealion 7. Como a Tesla os criou, obrigam a algum jogo de mão para libertar a alavanca, dado que não saem ligeiramente para fora, o que facilitaria e muito a abertura: um sistema com saída automática mínima tornaria este gesto mais intuitivo.
À volta do Model Y encontramos seis câmaras exteriores, incluindo duas no pilar B, a que se junta uma para filmar o interior. Este conjunto “alimenta” funcionalidades como o modo ‘Sentinela’, que grava tudo o que acontece em redor do automóvel quando está estacionado. Através da app móvel é possível ver imagens, escolher câmaras, ligar luzes, accionar a buzina e até activar um efeito sonoro pouco sério (um ‘Pum’), mas revelador da personalidade descontraída da marca.

A app funciona também como chave, uma alternativa ao cartão físico, permitindo abrir o carro, a bagageira e a frunk, ligar a ventilação para aquecer ou arrefecer o interior, baixar os vidros para arejar e activar o ‘Summon’, que retira automaticamente o Model Y de um estacionamento em espinha. É uma aplicação muito completa, à imagem do sistema de infoentretenimento desenvolvido pela Tesla.
E, lá dentro, é em torno deste elemento que tudo gira, personificado num grande ecrã central de 15,4 polegadas, que funciona como cérebro, centro de controlo e, no fundo, protagonista absoluto da experiência a bordo: pela nossa experiência, o mais certo é escrever ‘infoENTRETENIMENTO’, dado que, aqui, esta palavra ganha outra dimensão.
O Model Y pode transformar-se numa sala de cinema, num salão de jogos ou num espaço de karaoke, ou melhor, de CARaoke. O clássico espectáculo de luzes e som também pode ser activado para fazer um pouco de show off para amigos. Este lado lúdico convive com um sistema que toma muitas decisões por nós: detecta vidros embaciados e avisa antes de actuar ou aquece automaticamente o volante e os bancos. Especialmente nestes últimos dias, de temperaturas baixas, achámos tudo bem-vindo.

O habitáculo, como já devem ter percebido, assume um minimalismo levado ao extremo. Fora os comandos no volante, com dois botões de cada lado e rodas de clique para multimédia e controlo de velocidade, o único botão físico destacado é o dos quatro piscas, colocado no… tejadilho. Depois, não há grelhas de ventilação reguláveis manualmente, já que tudo é feito com o deslizar do dedo no menu de AC.
Esta abordagem continua com a presença de apenas uma manete, atrás do volante, para os piscas, uma concessão feita pela Tesla depois das críticas dos utilizadores: antes, esta função estava integrada no próprio volante. Também não existe um painel de instrumentos, nem head-up display, pelo que informações básicas como a velocidade aparecem apenas no ecrã central.
Isto obriga a desviar o olhar da estrada, o que pode ser contraproducente com o refinamento técnico que a Tesla está a aplicar aos seus automóveis. Percebemos a lógica e a direcção escolhida pela marca de Elon Musk, que passa mesmo pela redução ao máximo de pontos de foco no habitáculo, mas fica a sensação de que um pequeno ecrã dedicado ou uma projecção no pára-brisas também não ia beliscar a abordagem mais minimalista.

Mais uma prova de que o habitáculo foi limpo de comandos está no facto de não haver a tradicional alavanca da selecção de marcha. Em vez disso, temos um comando táctil deslizante integrado no ecrã, sempre visível no canto superior esquerdo. Acções como ajustar retrovisores, altura e alcance do volante, sempre com apoio dos botões do volante, estão concentradas no menu ‘Controlos’ – é mais um exemplo da dependência absoluta do ecrã central.
Em seguida, no menu ‘Dinâmica’, surgem opções para afinar a condução: aceleração ‘Relaxada’ ou ‘Normal’, desaceleração ‘Reduzida’ ou ‘Normal’ e peso da direcção regulável em três níveis. Não existem modos clássicos como ‘Eco’ ou ‘Sport’, ficando a personalização da resposta do acelerador como o equivalente mais próximo. Já os alertas de velocidade acima do limite desligam-se com facilidade, através de um ícone permanente no ecrã que combina o sinal de trânsito detectado com um altifalante.
Em matéria de arrumação, o Model Y está particularmente bem servido. Há dois compartimentos de grandes dimensões na consola central, um à frente e outro sob o apoio de braço, capazes de acomodar objectos volumosos, como um tablet de dez polegadas. Ambos ficam escondidos por tampas, duas delas deslizantes, uma solução acertada. Por baixo do ecrã encontramos duas bases de carregamento Qi, embora exista apenas uma porta USB-C à frente, colocada numa das “paredes” do compartimento sob o apoio de braço.

Atrás, os passageiros ficam com um ecrã táctil de sete polegadas próprio para controlar multimédia, ventilação e desfrutar de plataformas de streaming (YouTube, Netflix e Disney+), além de terem portas USB-C. O ideal é viajarem duas pessoas nos bancos traseiros, para o conforto ser mais elevado, conforto esse que é reforçado pelo facto de haver bancos aquecidos e ventilados. Já que falamos nos bancos, uma nota para o facto de a versão ensaiada ter vindo com estofos em branco, um extra de 1 200 euros.
Finalmente, nos dados mais técnicos, para este Model Y, a Tesla anuncia 600 km de autonomia em ciclo WLTP e consumos combinados de 15,9 kWh/100 km (fizemos 25, mas também não fomos nada meigos com o acelerador), valores que colocam este automóvel de 4,79 metros num patamar muito competitivo. Contudo, o preço da versão testada pode afastar quem está na dúvida entre optar por um Tesla e um modelo de uma marca mais… “convencional”: 55 175 euros.
Isto explica-se por termos tido direito ao Autopilot Aperfeiçoado (3 800 euros) e aos extras que já foram descritos ao longo do texto, além de, claro, o preço da versão Premium ser muito mais elevado face ao de entrada: 40 975 euros. No fundo, este Model Y continua a mostrar porque é que a marca segue um caminho próprio. Nem tudo é consensual, mas há (muito) poucas propostas no mercado que oferecem uma experiência tão distinta, coerente e assumida.











