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Grande Panda Híbrido La Prima: conduzimos o divertido SUV compacto da FIAT que nos deu um banho de nostalgia

©MotorMais | FIAT Grande Panda©MotorMais

O novo Grande Panda é um dos melhores exemplos de como uma marca pode olhar para o seu passado sem ficar presa a convenções. Pode ter algumas falhas de acabamentos, mas deixa-nos um brilhozinho nos olhos.

E é mesmo como canta Sérgio Godinho: este modelo foi dos poucos este ano, com todos os seus defeitos, que nos deu pena entregar no final do teste. Não por ser muito potente ou uma “espada”, mas sim porque há aqui um apelo nostálgico que nos toca e nos faz perceber que um automóvel nem sempre é apenas um modo de ir do ponto ‘A’ ao ponto ‘B’.

O Grande Panda assume, sem complexos, a estética retrofuturista que algumas marcas têm explorado – e bem. Para nós, esta é uma das principais tendências do mercado automóvel dos tempos mais recentes e, bem explorada, pode ser uma galinha dos ovos de ouro: vejam-se os resultados que o 5 E-Tech tem trazido à Renault.

Como este, o Panda tem o apelo certo para dois tipos de público: os mais saudosistas, fãs da estética dos anos oitenta/noventa; e o mais jovem, que prefere uma abordagem mais contemporânea. Este modelo da FIAT tem o condão de nos “servir” isto de bandeja, como já tínhamos percebido quando o conduzimos pela primeira vez, na versão Icon, em Setembro.

©MotorMais | FIAT Grande Panda
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Para os primeiros, temos detalhes como o antigo logótipo da FIAT, com as quatro linhas oblíquas da fábrica de Turim, que surge espalhado pela carroçaria e ganha um dos momentos mais ‘wow’ no pilar C, onde um painel em relevo muda consoante o ângulo: de um lado lê-se ‘FIAT’, do outro surge o símbolo clássico.

Para os segundos, há abordagens como os faróis pixel art, tanto à frente como atrás — com especial destaque para os traseiros, mais salientes. As linhas direitas e o nome ‘Panda’ esculpido nas laterais completam uma presença visual forte, a que é impossível ficar indiferente.

Na versão La Prima testada, a mais equipada da gama, a cor de série passa a ser a Amarelo Limone, a mais atractiva do catálogo e, curiosamente, sem qualquer custo. Qualquer uma das outras seis cores, três delas pastel, fica por 600 euros – é o caso, por isso, da metalizada Azul Lago da versão ensaiada.

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Por dentro, a lógica de homenagem ao passado da marca, em paralelo com detalhes mais actuais, continua. No volante voltamos a encontrar o antigo logótipo da casa italiana, enquanto o tablier aposta numa moldura oval que integra o ecrã táctil de 10,25 polegadas do sistema de infoentretenimento e o painel de instrumentos TFT a cores de 10 polegadas.

Esta moldura inclui, à direita, uma zona translúcida onde aparece uma pequena miniatura do Grande Panda a iniciar um loop, um detalhe lúdico que também acaba por ser uma imagem de marca da “nova” FIAT. No fundo, este é um habitáculo que apela às emoções e às origens da casa transalpina.

Os materiais seguem uma abordagem pragmática e é aqui que começam (mas também terminam) os problemas deste Panda. Os plásticos são duros, tanto no tablier como nas portas, algo que se mantém entre as versões Icon e La Prima, e que entendemos perfeitamente, tendo em conta o espírito deste modelo.

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Ainda assim, isto não justifica alguns deslizes nos acabamentos, sobretudo na zona superior do tablier, onde surgem linhas desencontradas que transmitem uma sensação de desleixo que o Panda não merecia. Isto foi algo que já tínhamos notado em Setembro, durante os ensaios dinâmicos da apresentação, e que agora voltamos a apontar.

O mesmo acontece com o porta-luvas superior em bambu, interessante na escolha do material, mas com uma tampa que não parece perfeitamente alinhada. Em contrapartida, temos de aplaudir o uso de materiais reciclados por parte da FIAT, visível na pigmentação dos plásticos e que acaba por ser conseguido do ponto de vista estético.

Muito agradável é o sistema de infoentretenimento, que segue uma filosofia minimalista e eficaz. Os menus são simples, rápidos e intuitivos: ou seja, nada fica escondido em camadas desnecessárias de menus, o que torna a utilização diária muito mais fluida. No quadrante, esta abordagem mantém-se: tudo está bem apresentado e sem complicações.

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Já o volante, em pele sintética, tem um bom toque e integra comandos claros para o cruise control e multimédia. À semelhança do novo Citroën C3, não existe um botão Start/Stop tradicional, sendo necessário rodar a chave para ligar o carro, o que também acontece na Icon. Contudo, na La Prima ganhamos ar condicionado automático e um carregador Qi para o telemóvel.

Na zona inferior ao ecrã principal do tablier, mantêm-se as duas portas USB-C (às quais se juntam mais duas para os passageiros traseiros) e botões físicos para desligar alertas de velocidade e assistência à manutenção na faixa. Estes dois últimos controlos são muito bem-vindos e poupam-nos as dores de cabeça para desligar tudo de forma individual.

Em termos de arrumação, o Grande Panda… tem grandes soluções. Há dois porta-luvas, um compartimento central configurável para garrafas ou copos e um espaço profundo sob o apoio de braço, suficiente para guardar vários objectos, como carteiras e smartphones.

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A grande força da versão La Prima está no equipamento de série: temos, por exemplo, Apple CarPlay, Android Auto, navegação e câmara de estacionamento traseira. Os bancos e volante aquecidos são o único extra relevante, com um custo de apenas 250 euros – na prática, além da cor e deste opcional, tudo o resto vem incluído. Em comparação com a versão de entrada Icon, a La Prima acrescenta ainda os vidros escurecidos, as jantes de liga leve de 17 polegadas em vez de 16, o AC automático, os retrovisores eléctricos e o já mencionado carregador Qi.

Esta versão híbrida personifica-se num motor T-Gen3 1.2, com uma potência combinada de 81 kW, resultante dos 100 cavalos do motor térmico e do apoio de um motor eléctrico de 28 cv. É, assim, um sistema mild hybrid pensado sobretudo para ajudar nos arranques e em curtas deslocações a baixa velocidade.

Segundo os dados oficiais da FIAT, os consumos são de 5,1 l/100 km, mas a realidade parece não colaborar: depois de, na versão Icon, termos registado médias de 7,4 l/100 km, agora, com percursos mais variados que incluíram cidade e estradas secundárias, os valores fixaram-se nos 7,1 l/100 km, ainda bastante longe do número oficial. Ainda assim, temos de confessar que a nossa condução não se pautou sempre por toques conservadores no acelerador.

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Este novo Grande Panda (qualquer que seja a versão) posiciona-se como uma proposta cheia de personalidade, forte no design e muito competente no equipamento. No máximo, este automóvel pode custar 25 200 euros, sendo que a unidade testada ficou nos 24 950 euros. Não é perfeito, sobretudo nos acabamentos e nos consumos reais, mas tem algo que não se pode comprar: carácter. E, neste caso, isto faz toda a diferença.