Abarth 500e Turismo Cabrio 155 cv: conduzimos o escorpião de corrida da FIAT em que é proibido olhar para a autonomia

Se há definição ideal de ‘pocket rocket’, ‘500 Abarth’ é, de certeza, uma delas. Este automóvel tem sido, ao longo das suas gerações, sempre um modelo que foge ao convencional: com a versão eléctrica, não é diferente.
Assim que vemos este FIAT 500e, é impossível não nos lembrarmos de uma pista. Por fora, a essência do escorpião italiano sente-se em todo o chassis, com os emblemas nas laterais e nas jantes a reforçarem a sua “picada” desportiva. O exterior “transpira” competição por todos os poros e, num modelo tão compacto, isto é algo que não deixa de ser cativante e… provocante.
O ambiente a bordo não foge a esta filosofia. A Alcantara domina o cockpit, inclusive no volante e nos bancos, que oferecem apoios lombares firmes e a dureza típica de um carro desportivo. Contudo, em viagens mais longas (tivemos a “audácia” de ir até Palmela, passar um dia nas vindimas), as nossas costas começaram a ressentir-se, ainda que esse tipo de utilização não seja o mais indicado para este modelo.

O número que mostra a autonomia a vir por aí abaixo, sempre que o nosso pé ficava mais pesado no acelerador, foi sempre um bom reality check. A FIAT fala em 255 quilómetros, mas, para nós, é impensável chegar a este número sem que desfrutemos a sério deste escorpião de corrida.
Aliás, tentar ser campeão dos consumos ao volante deste Abarth é um crime e devia dar direito a perder pontos na carta. Foi por isso que, muitas vezes, optámos por activar o modo de corrida ‘Scorpion Track’: adorámos ter 80% de bateria e o indicador marcar abaixo dos 200 km, no painel de instrumentos.
Por falar neste elemento, aqui temos um painel arredondado de sete polegadas, ladeado por um tablier em Alcantara com textura ondulada a que a marca chama «linhas dinâmicas». Este foi mesmo um dos melhores do género que vimos este ano, com uma leitura clara e dados que não se amontoam: embora pequeno, este ecrã foi bem organizado pela FIAT.

Ao centro, temos um ecrã táctil de 10,25 polegadas para o infoentretenimento, com a mesma “lógica” gráfica que já tínhamos visto no Tonale (é tudo Stellantis, lembrem-se). Aqui, o destaque é o menu ‘Desempenho’ com quatro manómetros digitais — potência em tempo real (0-130 kW), nível e temperatura da bateria e voltagem — e o modo ‘Drag Race’, que permite comparar tempos de aceleração e distâncias de travagem, algo pensado para competições entre amigos – mas sempre em segurança.
De série, o 500e Abarth traz bancos traseiros rebatíveis, ar condicionado automático, faróis Full LED Infinity, sensores de luz e de chuva, sensores de estacionamento traseiro e até um sistema de detecção de fadiga. A isto juntam-se os sistemas de assistência à condução habituais: aviso de transposição de faixa, travagem autónoma de emergência com detecção de peões e ciclistas e reconhecimento de sinais de trânsito. A forma de desligar estes alertas sonoros é igual à do Tonale: há um atalho no ecrã táctil.
Na arrumação, apesar de não haver milagres, o Abarth tem soluções práticas: temos uma bandeja com carregamento sem fios debaixo dos botões físicos do ar condicionado, entradas USB no tablier e na consola central, um único porta-copos/garrafas e um compartimento mais generoso atrás, que pode ser fechado.
O apoio de braço esconde ainda um pequeno alçapão, igualmente fundo e útil. No entanto, os lugares traseiros são apenas de cortesia, apenas adequados a passageiros mais baixos e magros; a bagageira segue o mesmo conceito, com espaço limitado, mas suficiente para três mochilas.

Como é habitual neste tipo de modelos, a condução pode ser adaptada através do selector de modos, no Abarth 500e com três perfis distintos: ‘Turismo’, um modo de passeio, para quem, mesmo assim, quiser ser um fundamentalista dos consumos; ‘Scorpion Street’, mais disponibilidade, mas ajustada à condução em cidade; e o já nosso conhecido ‘Scorpion Track’, que nos dá tudo aquilo que merecemos, ou seja, a potência total dos seus 155 cavalos.
Curiosamente, não é no modo mais desportivo que a regeneração é mais intensa. Nos modos ‘Turismo’ e ‘Scorpion Street’, levantar o pé do acelerador enche de imediato o indicador ‘Charge’ a verde, permitindo mesmo imobilizar completamente o carro apenas com desaceleração, algo que nem sempre acontece noutros modelos. Isto nunca pode ser regulado (ou personalizado), coisa que duas patilhas no volante resolviam de imediato.
Em termos de extras, a versão Turismo Cabrio que conduzimos vem recheada de packs “Escorpião”. O ‘Scorpion Design’ inclui os tais estofos, volante e tablier em Alcantara, jantes de 18 polegadas, vidros traseiros escurecidos e pedais desportivos. O ‘Scorpion Sound’ dá-nos um sistema de som que simula o barulho de um motor a gasolina, mas que, na verdade, nunca demos por ele.

Já o ‘Scorpion Tech’ acrescenta sensores 360°, carregador sem fios para smartphones e espelhos retrovisores com desembaciamento. Finalmente, o ‘Pack Winter’ dá ao Abarth bancos dianteiros e pára-brisas aquecidos. Estes packs têm um custo combinado de quatro mil euros, a que se juntam a pintura Vermelho Adrenalina (essencial, na nossa opinião, por 550 euros) e o cabo de carregamento (385 euros). No total, o preço deste Abarth 500e Turismo Cabrio 155 cv fica em 38 030 euros (o base é de 33 317 euros).
Durante o nosso período de condução, fizemos cerca de 145 quilómetros e, surpresa: ficámos (muito) abaixo dos consumos anunciados pela FIAT: 13,8 kWh/100, quando a marca fala em… 17,9. O Abarth 500e Turismo Cabrio é, no fundo, a tradução eléctrica do espírito escorpião: compacto, desportivo, provocador e cheio de carácter.
Mas também acaba por ser uma chamada de atenção para as limitações que a mobilidade eléctrica impõe num formato tão pequeno. É, no fundo, um modelo que nos lembra de que, quando nasce, a autonomia alargada não é para todos. Mas, num Abarth, temos mesmo de ficar preocupados com isso? EscorpiNÃO.