Mercedes-Benz C180 BlueTec – Risco acertado

Como sabe, as normas de emissões de poluentes estão cada vez mais apertadas (e ainda bem, para o futuro de todos nós), o que tem obrigado os fabricantes automóveis a terem que recorrer a soluções que outrora pensávamos serem impensáveis. Com um preço que habitualmente ronda os mil milhões de euros, é perfeitamente compreensível que o desenvolvimento de um novo motor acabe por ficar fora dos planos, abrindo assim portas às cada vez mais habituais parcerias entre fabricantes.

Uma dessas parcerias que resultou na perfeição foi a aplicada pela Mercedes-Benz, que recorreu ao conhecido bloco 1.5 diesel da Renault nas versões de entrada dos modelos compactos da marca (Classe A, B, CLA e GLA). O sucesso tem sido tremendo, tanto nas vendas (permitindo à Mercedes-Benz conquistar mercados anteriormente dominados por marcas generalistas), como do ponto de vista técnico (desempenho, consumos e fiabilidade).

Contudo, embora o caso tenha sido um sucesso nos compactos, a aplicação da mesma fórmula num modelo superior com um peso (e herança) tão grande quanto o Classe C poderá revelar-se como demasiado arriscada. Felizmente, e posso desde já adiantar o veredicto, o risco que a Mercedes-Benz correu com a aplicação do bloco 1.6 diesel no Classe C foi, no mínimo, acertado.

Como decerto deverá conhecer, o Classe C pertence já a um segmento que exige uma qualidade de construção superior ao habitual, maior requinte, condução suave e confortável, sem nunca prescindir do desempenho elevado, algo obrigatório para quem deseja ostentar a estrela no capot (ou grelha, neste caso). Designado por C180 Bluetec, a Mercedes-Benz decidiu arriscar ainda mais e, além de implementar um pequeno bloco de quatro cilindros de origem Renault no seu Classe C, optou pela versão menos potente, ou seja, de apenas 116cv.

Será disparate? Bem pelo contrário. Logo para começar existe a invulgar sensação de se estar a bordo de um Classe E, tal é o silêncio e ausência de vibrações que reina a bordo assim que se dá à chave de ignição. Acredite, o funcionamento é surpreendentemente bom, melhor até que o bloco de 2.1 litros utilizado no C220 e C250, que já começa a acusar um pouco a idade face às motorizações rivais.

Capaz de realizar consumos invejáveis, mesmo face a alguns automóveis mais pequenos e leves, sempre que desejar imprimir um andamento mais rápido, este não terá demasiadas dificuldades em cumprir os seus desejos. Curiosamente, e embora tenhamos ao nosso dispor o sistema Agility Select que permite ajustar o comportamento do motor e direcção, foi no modo “Confort” onde senti que o comportamento mais se assemelhava ao esperado de um Mercedes-Benz, uma vez que no modo Sport o motor perdia a suavidade e linearidade que se espera de uma berlina do género.

Contudo, não fiquei fã da caixa manual de seis velocidades utilizada, não por falta de precisão, mas sim por se revelar demasiado longa para as capacidades do motor, bem como pela “desarrumação” que provocou na consola central, uma vez que a colocação da manete da caixa obrigou a deslocar o comando rotativo e o painel táctil para uma posição demasiado recuada, e que acabava por provocar alguns toques acidentais no sistema de infoentretenimento Command presente.

Este, por sua vez, vinha com a solução de navegação da Garmin pré-instalada, que embora seja bastante eficiente, tem um grafismo demasiado berrante (parecido com um desenho animado) face ao resto do grafismo, sóbrio e elegante, uma vez que este deriva dos menus utilizados no topo de gama Classe S. De resto falta apenas falar no extremo conforto e espaço disponível a bordo para os quatro principais ocupantes (esqueça o lugar central traseiro se deseja realizar longos percursos).

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