No passado domingo, um Boeing 737 Max 8 da Ethiopian Airlines despenhou-se 6 minutos após levantar voo em Addis Abeba, com destino a Nairóbi, no Quénia, resultando num total de 157 vítimas mortais (149 passageiros e 8 tripulantes). Esta situação está a levantar suspeitas sobre a fiabilidade deste modelo da Boeing, uma vez que esta aeronave, de registo ET-AVJ, tinha somente quatro meses de vida (1200 horas de voo), tal como aconteceu com o Boeing 737 Max 8 da Lion Air, que se despenhou no mar de Java, na Indonésia, a 29 de Outubro de 2018, tendo esta também apenas dois meses de vida (800h de voo).
Ou seja, no espaço de cinco meses, duas aeronaves com menos de seis meses de vida útil despenharam-se passados poucos minutos da descolagem. Esta situação levou a que diversos países a encerrar, temporariamente, o espaço aéreo a voos de Boeing 737 Max 8, como Austrália, Alemanha, China, França, Indonésia, Malásia, Mongólia, Omã, Singapura, Coreia do Sul e Reino Unido. Também algumas companhias aéreas decidiram suspender os voos com estas aeronaves, como a Ethiopian Airlines, Aeromexico, Aerolíneas Argentinas, Cayman Airways, Comair, Eastar Jet, Royal Air Maroc e a brasileira Gol.
Até ao momento, a Boeing somente emitiu um comunicado em que lamenta o sucedido no acidente do voo ET302 da Ethiopian Airlines, e que enviou uma equipa técnica ao local do acidente para prestar assistência técnica junto das autoridades Etiópianas que estão a investigar as causas do acidente.
Updated Statement on Ethiopian Airlines Flight 302: https://t.co/0jyiFuGHIE pic.twitter.com/Unl92SYykI
— Boeing Airplanes (@BoeingAirplanes) 10 de março de 2019
Porém, durante o final do dia de ontem, a Boeing emitiu um novo comunicado a anunciar a introdução de uma actualização de software destinada a evitar que a causa do acidente da Lion Air, de Outubro passado, se volte a repetir. Esta actualização irá adicionar um alerta sonoro sempre que o piloto tentar realizar manobras quando o sistema automático estiver activado, bem como impedirá que os sistemas de controlo da aeronave se sobreponham aos comandos realizados pelos pilotos.
Através desta actualização, todos os Boeing 737 Max 8 passarão a demonstrar um comportamento mais semelhante ao anterior 737-800, onde todos os sistemas de auxílio são desactivados, caso os pilotos desliguem o sistema de piloto automático. Este sistema, actualmente em vigor, permite compensar automaticamente os problemas detectados de perda de sustentação (stall) em situações de ângulo de ataque elevado, causados devido à maior dimensão dos motores e devidas alterações nas asas para comportarem os novos motores.
Campeão de vendas
Conforme anunciamos aqui (Boeing entrega a unidade 10 mil do seu 737), o Boeing 737 é a aeronave mais vendida do mundo, com mais de 10 mil unidades vendidas desde o seu lançamento a 10 de Fevereiro de 1968. Actualmente a família 737 Max representa 72% do total das encomendas realizadas, estando até ao momento pendentes 4699 encomendas, um valor significativamente superior às 612 aeronaves pendentes da família 787, a segunda família de aeronaves mais vendida do gigante norte-americano.
O Boeing 737 Max 8 é a primeira variante da nova família de aeronaves 737, que veio substituir Boeing 737-800. A nova versão, lançada em Maio de 2017, tinha como objectivo utilizar motores mais eficientes, garantindo assim um menor custo operacional e maior alcance, razão pelo qual operadores como a Norwegian o utilizam para voos transatlânticos, como o voo entre Providence (EUA) a Edimburgo (Escócia).
Para tal, a Boeing recorreu aos novos CFM Leap-1B de 176 cm de diâmetro que utilizam 18 lâminas de fibra de carbono, face aos anteriores CFM56-7, utilizados no Boeing 737-800, de 155 cm de diâmetro de 24 lâminas. Embora estes novos motores ofereçam uma poupança de combustível na ordem dos 12%, cada um pesa mais 385 kg, o que obrigou a um reforço da estrutura para comportar o peso adicional, obrigando-o ao mesmo tempo a coloca-lo numa posição mais alta e mais afastada da estrutura da asa. Isso alterou a distribuição de peso da aeronave, bem como o centro de gravidade da mesma, o que levou a Boeing a implementar um sistema MCAS para ajuste automático sempre que o nariz da aeronave subir demasiado.
Mais tarde, a Boeing irá lançar as restantes variantes da família 737 Max, como o 737 Max 7 e Max 9, que vão substituir os actuais 737-700, 737-900ER. Existirá ainda a variante 737 Max 10, que será lançado exclusivamente para combater com o novo Airbus A321neo com 198 lugares num formato de duas classes ou 232 lugares num formato de uma só classe, bem como o novo 737 Max 200, que tem este nome por permitir transportar 200 passageiros, perfeito para companhias low cost como a Ryanair.