A KLM (Koninklijke Luchtvaart Maatschappij – Royal Duch Airlines) iniciou as celebrações do seu centenário, feito que só vem reforçar a sua posição enquanto a companhia aérea mais antiga do mundo a operar sob o mesmo nome. Embora só tenha sido efectivamente fundada a 7 de Outubro de 1919, foi a 12 de Setembro desse mesmo ano que a Rainha Guilhermina dos Países Baixos concedeu o epíteto de Koninjljike (“Royal”) para o nome da companhia aérea que viria a ser criada, mais tarde, por um grupo de empresários, que nomearam Albert Plesman como primeiro Director daquela que viria a ser chamada de Real Companhia Holandesa de Aviação para os Países Baixos e as Colónias.
Porém, só a 17 de Maio a KLM realizou o seu primeiro voo, numa viagem entre Londres e Schiphol (Amesterdão), com um DeHavilland DH-16 alugado, sendo este comandado por Jerry Shaw. A bordo vinham dois jornalistas que registaram a façanha, uma carta do Presidente da Câmara de Londres para o seu homólogo em Amesterdão, bem como uma pilha de jornais. Depois dessa estreia, só um ano mais tarde, em 4 de Abril de 1921, a KLM retomou a sua actividade regular, desta vez com aviões próprios, Fokker II e III, bem como os seus próprios pilotos. Esta parceria com a Fokker duraria até 2017, ano em que a KLM utilizou o Fokker 70 na sua frota. Em 9 de Maio de 1921, a KLM inaugura o seu primeiro ponto de venda, na Leidseplein, em Amesterdão, o primeiro do género em todo o mundo, onde os passageiros, após adquirirem o bilhete, poderiam ser transportados de autocarro até ao aeródromo de Schiphol.
1924 seria um ano de viragem, com a criação daquela que seria o primeiro grande voo intercontinental da KLM, que ligaria Amesterdão a Batavia (actual Jacarta) na Indonésia (antigas Índias Orientais Holandesa). Esta viagem, com mais de 15.000 km de distância, foi realizada por um Fokker F. VII e uma equipa de três corajosos tripulantes, que ao longo de 55 dias, com um total de 127 horas de voo e inúmeras paragens, conseguiram aterrar em Batavia a 24 de Novembro de 1924. Porém, para a viagem de regresso, o “H-NACC” foi desmontado e transportado de regresso à Europa por via marítima. Ainda assim, esta viagem serviu para demonstrar como já era possível ligar-se a qualquer parte do mundo por avião, tendo esta rota sido tornada regular a 25 de Setembro de 1930, tornando-se na rota mais importante até ao início da Segunda Guerra Mundial.
Em 1934, a KLM voltaria a ser pioneira, com a realização do seu primeiro voo Trans-Atlântico, com um Fokker F. XVIII a ligar a cidade de Amesterdão com Curaçao e Aruba, nas Antilhas Holandesas. Para conseguirem tal feito, foi necessário reestruturar parte da cabine de passageiros para acomodar os depósitos de combustível adicional, fundamentais para a travessia do Oceano Atlântico, numa rota que demoraria um total de 7 dias, 9 horas e 20 minutos. Em 1935, a KLM introduz a tripulação de cabine, para ajudar no conforto e segurança dos passageiros, tarefa essa que estava, anteriormente, a cargo dos engenheiros. Embora a primeira tripulação de cabine fosse exclusivamente masculina, esta foi rapidamente substituída por tripulações femininas.
Embora limitada pelo decorrer da Segunda Guerra Mundial, a KLM começou a voar para Portugal a 2 de Abril de 1940, com a inauguração da rota Amesterdão – Porto – Lisboa – Amesterdão, operado por um Douglas DC-2. Curiosamente foi a KLM a primeira companhia aérea a abrir o tráfego do recém-inaugurado Aeroporto da Portela, quando a 15 de Outubro de 1942 aterrou um Douglas DC-3 da KLM, que iria realizar a rota Bristol – Lisboa – Bristol, na altura a única ligação aérea com Inglaterra. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a KLM retoma todas as operações, em Setembro de 1945, tendo a 28 de Novembro retomado a rota para a Jacarta.
No ano seguinte, a KLM tornou-se na primeira companhia aérea europeia a ligar o continente Europeu com o Américano, através de um Douglas DC-4, de seu nome “Rotterdam”, que iniciou uma rota entre Amesterdão e Nova Iorque. Já a 1 de Abril de 1958, a KLM introduziu a nova Classe Económica, ligeiramente mais básica que a Classe Turística em termos de nível de serviço, mas o suficiente para permitir uma redução no preço das passagens aéreas, o que permitiu à KLM aumentar o número de passageiros em 27% em apenas três meses.
A década de 60 marcou a transição para a era dos motores a jacto, com a introdução do Douglas DC-8 “Albert Plesman”, que graças aos seus quatro motores, permitia reduzir não só o tempo de voo como o número das paragens necessárias. O voo entre Amesterdão e Nova Iorque ficou reduzido para metade do tempo. A 28 de Abril de 1967, Schiphol acabaria por se tornar na nova base da KLM, por ser o único que permitia a aterragem de qualquer aeronave, mesmo com ventos fortes provenientes de todos os lados.
Foi a 31 de Janeiro de 1971 que a KLM recebeu o seu primeiro Boeing 747-200, apelidado de “Mississippi”, sendo este o primeiro avião de formato “widebody” da companhia, com capacidade para 353 passageiros. Aterrou pelas 10:45 em Schiphol, após uma viagem de 10h directamente da fábrica da Boeing, em Seatle. Em 1975 a KLM recebeu um novo membro da família 747, um 747-306B Combi, um avião de formato único, ao permitir transportar um elevado número de passageiros e de carga.
Infelizmente todas as histórias têm os seus períodos negativos, e o dia 27 de Março de 1977 ficará para sempre na história da KLM (e da aviação mundial), devido à colisão de um Boeing 747 com outro 747, da Pan Am, na ilha de Tenerife, naquele que seria maior acidente da aviação civil de sempre, com um total de 583 fatalidades, 335 ocupantes do voo da Pan Am, e 248 (todos os ocupantes) do 747-200 da KLM. Devido a este acidente, foram criadas mudanças fundamentais nas comunicações rádio, como padronização dos termos, e novos procedimentos de cabine antes da descolagem.
A década de 90 foi marcada por algumas novidades, como a introdução em Dezembro de 1991 daquele que seria o primeiro programa de fidelização numa companhia aérea, na altura designado como Flying Dutchman, nome esse que viria a ser alterado em 2005 para Flying Blue. Entre 1989 e 1993, a KLM e a Norte Americana Northwest aquela que seria a primeira joint-venture entre duas companhias internacionais, permitindo assim a criação de voos de ligação entre os voos europeus da KLM com os voos do continente Americano da Northwest. Esta parceria ainda perdura, mesmo após a adquição da Northwest pela Delta Airlines.
Esta parceria permitiu a criação de uma nova classe, destinada a passageiros de voos intercontinentais, designada de World Business Class. Esta permitira oferecer um nível de conforto entre as classes Economy e Royal. Em Junho de 1996, a KLM iniciou a criação de rotas para a China com o seu primeiro voo directo para Pequim, antevendo um crescimento que se regista até hoje, sendo o mercado Chinês um dos destinos mais importantes da KLM.
Com a chegada do novo milénio, chega a fusão com a Air France, criando assim, a 5 de Maio de 2004, a Air France – KLM, o maior grupo de companhias aéreas do mundo até então. Embora tenham existido alguns receios, conforme já foi dito, esta fusão não interveio na parceria com a Northwest, tendo esta, a KLM e a Continental entrado na Aliança Sky Team, que já incluía companhias como a Air France, Delta Airlines, Alitalia, Korean Air, CSA Czech Airlines e Aéro Mexico.
Desde então, a KLM tem apostado na inovação e sustentabilidade como princípios estratégicos da marca, sendo considerada, desde 2005, como a companhia aérea com a melhor política de sustentabilidade do mundo, com medidas como a abolição da emissão de bilhetes de papel em Junho de 2008, no investimento do desenvolvimento de alternativas aos combustíveis fósseis tradicionais, como biocombustíveis à base de algas, plantas e reaproveitamento de óleos de fritos usados. Chegaram a ser realizados voos recorrendo somente a biocombustíveis, com o primeiro a realizar-se em 2007, entre Amesterdão e Paris, e o primeiro voo intercontinental entre Amesterdão e Nova Iorque, em Março de 2013.
Para atingir níveis de sustentabilidade cada vez maiores, tem sido efectuado um esforço para a renovação da frota, abdicando de aeronaves históricas, como o Fokker 70, McDonel Douglas MD-11 e o próprio Boeing 747, por aeronaves mais eficientes, como os Boeing 787-9 Dreamliner, num processo de transição que vai decorrendo à medida que a Boeing vai conseguindo entregar as aeronaves adquiridas. O primeiro Boeing 787-10 Dreamliner chegou a 28 de Junho de 2019, com uma pintura alusiva ao centenário da KLM.
Relativamente ao futuro, a KLM espera revolucionar o mercado com a apresentação do conceito Flying-V, um protótipo de uma aeronave que, utilizando especificações similares aos de um Airbus A350, como número de passageiros, carga e dimensões que permitam usar as actuais infraestruturas existentes, permitirá oferecer uma menor resistência aerodinâmica devido ao seu invulgar formato em forma de “V”, o que só por si permitirá reduzir o consumo de combustível face ao já de si bastante eficiente A350.
Embora celebre 100 anos de vida, a KLM está presente em Portugal há quase 80 anos, com resultados bastante positivos. Desde 2016, ano em que procedeu à abertura da rota entre Porto e Amesterdão, que a KLM tem registado um crescimento de 23% em passageiros e um incremento de oferta de 56%. Actualmente a KLM opera dois voos diários em Lisboa (três durante o Verão) e um voo diário no Porto, só a KLM conseguiu transportar mais de 410.000 passageiros, com mais de metade a usar o aeroporto de Schiphol como ligação para outros voos. Já o Grupo Air France – KLM, reúne um total de 335 voos semanais em Portugal, num total de 19 rotas nos quatro principais aeroportos, Lisboa, Porto, Faro e Funchal. A Air France irá iniciar uma nova ligação a Faro a partir do próximo Verão.